terça-feira, 7 de maio de 2024

O declínio das Ordens Religiosas desde 1960

Os jesuítas foram a primeira ordem das doze principais a perder mais de metade dos seus membros desde o seu ponto alto em 1966 (1966: 36038; 2011: 17908 membros). Actualmente, têm 14195 membros, o que representa uma redução de 61% em relação ao seu máximo histórico. Não se registam alterações nesta tendência desde que Francisco, um jesuíta, se tornou Papa.

Relativamente ao número dos seus membros, duas ordens atingiram esse triste marco em 2016: os Franciscanos (agora com menos 55%) e os Oblatos de Maria Imaculada (agora com menos 54%); e duas em 2022: os Redentoristas (menos 51%) e os Vicentinos/Lazaristas (menos 52%).

Em termos de sacerdotes, apenas quatro ordens perderam mais de metade dos seus sacerdotes: os Beneditinos diminuíram 54% (início dos anos 70: 7058; 2019: 3420) e os Oblatos de Maria Imaculada diminuíram 52% (1967: 5441; 2021: 2643).

Tendo em conta os números de 2022, os jesuítas registam um decréscimo de 50% (de 21025 em 1969 para 10432 padres), agora 51%. Este ano, os franciscanos foram adicionados à lista, com uma redução de 51% (1967: 16528; 2022: 8140 padres).

Em termos de membros, apenas os Missionários do Verbo Divino atingiram o seu máximo em termos de membros nos últimos anos (2009: 6131 membros).

Em termos de sacerdotes, duas ordens atingiram o seu máximo em 2016: os Missionários do Verbo Divino com 4231 sacerdotes e os Carmelitas Descalços com 2937 sacerdotes. Os Carmelitas Descalços tiveram o melhor ano entre os 12 primeiros, aumentando em 4 o número de sacerdotes.

Somando todas estas doze comunidades religiosas, o máximo de sempre registou-se em 1966, com 160926 membros no total. Em 2023, esse número desceu 46% para 87 101 membros. Em termos de sacerdotes, o máximo foi em 1971 (95411 sacerdotes). Em 2023, esse número caiu 37%, para 60322 padres.

Se as tendências actuais se mantiverem, os Jesuítas perderão o título de maior ordem religiosa para os Salesianos, de São João Bosco, daqui a cerca de dois anos. Para além disso, os jesuítas deverão ficar abaixo dos 10000 sacerdotes na mesma altura.

in gloria.tv


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Como a devoção a Nossa Senhora no mês de Maio salvou um suicida

Ao Santo Cura d'Ars apresentou-se um dia uma senhora muito desesperada porque o seu marido, incrédulo, se tinha suicidado, atirando-se pela janela abaixo. Apenas o Santo viu aquela senhora, aproximou-se dela e, sem lhe ter perguntado nada, disse-lhe: "Senhora, o seu marido está salvo, está salvo... 

Antes de expirar, Nossa Senhora deu-lhe tempo de fazer um acto de contrição... Lembra-se que durante o mês de Maio ele ornamentava com flores a imagem de Maria e rezava diante dela, mesmo tendo-se afastado da fé?... Aquele gesto de veneração para com Nossa Senhora obteve-lhe a salvação, e agora está no Purgatório, precisando de sufrágios".

Pe. Stefano Manelli, FI in 'A Devoção a Nossa Senhora'


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segunda-feira, 6 de maio de 2024

497 anos do "Saque de Roma"

6 de Maio de 1527: Roma estava sob ataque. O exército invasor chegou ao Vaticano. Mais de 100 guardas suíços foram mortos nos degraus da Basílica de São Pedro. Aqueles que sobreviveram foram capazes de escoltar o Santo Padre em segurança, fazendo-o passar ao longo do 'Passetto di Borgo', a parede que liga o Palácio Apostólico ao Castel Sant'Angelo.

Para recordar os heróis que morreram naquele dia, o juramento dos novos recrutas da Guarda Suíça acontece todos os anos neste dia 6 de Maio.


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Ladainhas Menores nos 3 dias que antecedem a Ascensão

As "rogações", do latim, rogatio (pedido, petição), são as orações de petição que uma comunidade faz em determinados tempos ou por algumas intenções especiais, muitas vezes em forma de procissão e com o canto das Ladainhas dos Santos. As rogações – dando graças a Deus, pedindo a chuva, uma boa colheita, o fim de uma epidemia ou a libertação de algum outro mal que ameaça toda a comunidade – relacionam-se sobretudo com as Quatro Têmporas do ano.

HISTÓRIA

Em consequência das calamidades naturais e um terramoto que, no século V, destruiu casas e colheitas, na Diocese de Vienne (ou Viena), no Delfinado - actual Isère (França) - o Santo Bispo Marmeto, um dos Santos de Gelo, organizou, em 474, três dias antes da Ascensão, uma procissão solene de penitência nos três dias que precedem imediatamente a Ascensão. Mais tarde, em 511, o Primeiro Concílio de Orleans (combate ao arianismo; regulamentação das relações entre o poder real e a Igreja; estabelecido o direito de asilo) estendeu este costume a toda França; e o Papa Leão III, em 816, adoptou-o em Roma, donde passou a toda Igreja.

Ladainha de todos os Santos, os salmos e as orações são uma oração de súplica, recebendo por este motivo o nome de “rogações”. Têm por fim afastar os flagelos da Justiça Divina e atrair as bênçãos e a misericórdia de Deus. As ladainhas são um modelo admirável de oração; pequenas jaculatórias dialogadas, brevíssimas, e a ressumar sentido e piedade.  


Essas são as Rogações Menores. As Rogações Maiores, ao invés disso, não são obras de São Mamerto, e, ainda que tenham tido a bênção de diversos Papas, têm origens pré-cristãs. São celebradas no dia 25 de abril, data em que antigamente se praticavam os 
ritos de Ambarvalia (eram ritos de fertilidade agrícola romanos em honra de Ceres): procissões propiciatórias para obter boas colheitas. 

O Papa Libério (no século IV) cristianizou-as; e, sucessivamente, o Papa Bento XIV (século XVIII), estabeleceu que fossem "orações próprias para defender a vida dos homens da ira de Deus que nos amedronta em todo lugar", com o objetivo de "afastar os flagelos da justiça de Deus e de atrair as bênçãos da sua misericórdia sobre os frutos da Terra". Ambarvalia vem do latim "ambire arva" significando "volta ao redor do campo".

Seja como for, por ocasião das Rogações Menores repetiam-se essas procissões nos campos, com itinerários diferentes, durante os três dias. Desde a manhã até a noite, campo por campo, o Sacerdote repetia, dirigindo-se aos quatro pontos cardeais, as frases do rito: "A fulgore et tempestate, A flagello terremotus, A peste fame et bello". Frases às quais os fiéis respondiam: "Libera nos Domine".  

Nos dias das Rogações Menores faziam-se também previsões para as futuras colheitas: na segunda-feira, fazia-se o prognóstico para a colheita dos hortifruti e da uva; na terça, para o trigo, e na quarta para o feno. Se naqueles dias o tempo fosse inclemente, assim seria a colheita, ao contrário: com o tempo ensolarado, as colheitas abundantes. 

in Pale Ideas


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domingo, 5 de maio de 2024

Peregrinação de Pentecostes 2024

Inscrições: http://bit.ly/3JyFEu2
• Esta peregrinação é um dos capítulos Anjos da Guarda da peregrinação Paris-Chartres, à qual está unida em oração e organização
• Missa Solene com canto gregoriano
Aberta a todas as idades e condições físicas (cerca de 55 kms)
• Possibilidade de entrar no dia 17 (Sexta-Feira) à noite se não puder começar de manhã
• Custo: 65€ para adultos e 40€ para menores de 16 anos (quem não puder pagar fale com os organizadores)
• Vagas limitadas


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O grande Papa São Pio V

No calendário antigo hoje é dia de São Pio V, dominicano, um dos Papas mais importantes da História da Igreja. Pio V teve de enfrentar grandes desafios, como os protestantes que dividiam a Cristandade e os sarracenos que tentavam invadir a Europa. Lidou também com o problema da sodomia (relações sexuais entre homens) - com especial gravidade quando acontecia com um membro do clero - e não propriamente delicodoce:

«Esse horrendo crime, pelo qual cidades corruptas e obscenas foram queimadas pela condenação divina, nos enche de amarga dor e nos estimula veementemente a reprimi-lo com o máximo zelo possível.

Com toda razão o Quinto Concílio de Latrão estabelece que todo membro do clero apanhado na prática do vício contra a natureza, pelo qual a cólera de Deus caiu sobre os filhos da iniquidade, seja despojado das ordens clericais ou obrigado a fazer penitência em um mosteiro.

Para que o contágio de tão grande flagelo não se propague com maior audácia valendo-se da impunidade, que é o maior incentivo ao pecado, e para punir mais severamente os sacerdotes culpados desse nefando crime que não estejam aterrorizados com a morte da alma, determinamos que eles sejam entregues à severidade da autoridade civil, que faz cumprir a lei.

Portanto, desejando adoptar com maior rigor o que decretamos desde o início de nosso pontificado, estabelecemos que todo sacerdote ou membro do clero, seja secular ou regular, de qualquer grau ou dignidade, que cometa esse horrendo crime, por força da presente lei seja privado de qualquer privilégio clerical, de qualquer ofício, dignidade e benefício eclesiástico; e que, uma vez degradado pelo juiz eclesiástico, seja entregue imediatamente à autoridade civil para receber a mesma punição que a lei reserva aos leigos que se lançaram nesse abismo.»

Papa Pio V in 'Horrendum Illud Scelus' (30/VIII/1568)


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sábado, 4 de maio de 2024

Missa Solene na Catedral de Westminster em Londres (1950)



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O Sacerdote que se sacrifica pelo seu povo

Qual é a recompensa dos sacerdotes por se comprometerem com uma vida de auto-disciplina e trabalho; uma morte prematura e miserável? A febre irlandesa matou, entre Liverpool e Leeds, mais de trinta padres: tanto jovens na flor dos seus dias como velhos que mereciam ter algum sossego depois de décadas de trabalho. 

Houve um Bispo que morreu no norte; mas o que é que um homem da sua classe eclesiástica tinha a ver com o esforço e o perigo do serviço aos doentes, excepto a obrigação que lhe vem da Fé cristã e da caridade? Sacerdotes voluntariaram-se para o perigoso serviço. O mesmo aconteceu no primeiro surto de cólera, aquela misteriosa motivação inspiradora. O que poderia motivar um grupo de hipócritas, durante o surto de uma doença mortal, a ir um atrás do outro numa longa marcha até a esperança perdida, e um após o outro perecendo? 

Assim, posso dizer, que é essa a missão de cada sacerdote. Ele está sempre pronto para se sacrificar pelo seu povo. Noite e dia, doente ou saudável, faça chuva ou faça sol, lá vai ele ele, depois de uma chamada de um doente. O facto de um paroquiano morrer sem os sacramentos por culpa dele é terrível para ele.

Cardeal John Henry Newman


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sexta-feira, 3 de maio de 2024

A grave acusação de Chesterton contra Capitalismo

Nunca será suficiente repetir que aquilo que destruiu a família no mundo moderno foi o Capitalismo. Sem dúvidas, isto poderia ter sido feito pelo Comunismo: isso se o Comunismo tivesse tido alguma oportunidade de crescer fora do ambiente semi-mongólico onde actualmente floresceu. 

Mas, sobre aquilo no qual somos tão preocupados, o que realmente causou a destruição do lar e encorajou o divórcio, que tratou as antigas virtudes domésticas com mais e mais desprezo, foi a época e o poder do Capitalismo. 

Foi o Capitalismo que forçou o feudo moral e a competição comercial entre os sexos; foi o Capitalismo que destruiu a influência dos pais de família em favor da influência do patrão; que conduziu o homem de sua casa à procura de empregos; que os forçou a viver perto de fábricas e firmas, ao invés de estarem próximos às suas famílias; e, acima de tudo, foi o Capitalismo que encorajou, por razões comerciais, a exibição de publicidade e novidades espalhafatosas, que, ns sua própria natureza, são a morte de tudo aquilo que é chamado dignidade e modéstia, pelas nossas mães e pelos nossos pais.


G. K. Chesterton in ''The Collected Works (The Well and the Shallows: Three Foes of the Family)''. Edit. Ignatius Press, 1990, Vol. 3, pp., 442-445


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Festa da Invenção da Santa Cruz

Hoje é dia da Invenção da Santa Cruz. Infelizmente retirada do calendário há 70 anos, esta Festa comemora a descoberta da Verdadeira Cruz, onde Jesus havia sido crucificado, por parte de Santa Helena. A mãe do Imperador Constantino foi à Terra Santa para tentar encontrar tudo o que estava relacionado com Nosso Senhor, especialmente com a Sua Paixão, pela qual fomos salvos.

Em Sevilha fui abordado por algumas despedidas de solteiro, todas de portugueses. Estando eu no meio de uma delas a explicar quais são os 10 Mandamentos (a maioria dos católicos já não os conhece) aparece um mendigo e pede-me a bênção.

Dei-lhe a bênção, em latim, o que deixou o grupo pasmado. Depois disto, o mendigo pediu-me a cruz. Não percebendo bem o que ele queria, fiz-lhe o sinal da cruz na testa. Mas ele disse-me: "Quero beijar a cruz".

Tirei do bolso a cruz de São Bento que me foi oferecida no dia da minha ordenação e anda sempre comigo. Aquele homem beijou-a com uma devoção invejável. Depois disto, foi-se embora sem mais nada dizer.

Ave Crux, spes unica! (Salve Cruz, nossa única esperança)

Padre João Silveira


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quinta-feira, 2 de maio de 2024

Campanha internacional pela liberdade completa da liturgia tradicional

Ser católico em 2024 não é fácil. No Ocidente, continua a descristianização maciça, a tal ponto que o Catolicismo parece desaparecer do espaço público. Enquanto noutros lugares, continua a crescer o número de cristãos perseguidos pela sua fé. Além disso, a Igreja parece estar a ser atingida por uma crise interna que se traduz num declínio da prática religiosa, numa diminuição das vocações sacerdotais e religiosas, numa menor prática sacramental e até em dissensões entre sacerdotes, bispos ou cardeais antes impensáveis. Ora, entre os elementos que podem contribuir para o renascimento interno da Igreja e para a retomada do seu desenvolvimento missionário, temos antes de tudo a celebração digna e santa da sua liturgia, e a isso ajudará de modo poderosíssimo o exemplo e a presença da liturgia romana tradicional.

Apesar de todas as tentativas para fazê-la desaparecer, especialmente durante o presente pontificado, ela continua viva. Mais: continua a difundir-se cada vez mais, e a santificar o povo cristão que dela se abeira; produz hoje frutos evidentes de piedade, de crescimento vocacional, de conversões; atrai sempre mais jovens; está na origem do florescimento de muitas obras e iniciativas, em particular, escolas; e aparece sempre acompanhada por um sólido ensino catequético. Ninguém pode, pois, contestar que ela é um meio de conservação e transmissão da fé e da prática religiosa neste tempo de enfraquecimento crescente da fé e de abandono em massa dos fiéis. Entre outras forças vivas que ainda se vão afirmando e manifestando no seio da Igreja, a que é representada por este modo de vida cultual chama a atenção porque recebe a sua estruturação de uma lex orandi continuada.

Não se nega que lhe são dados, ou melhor, tolerados, alguns espaços onde possa existir e viver, mas sucede amiúde que se lhe tira com uma mão o que lhe foi dado com a outra. Ainda assim, não se conseguiu fazê-la desaparecer.

Desde a grande depressão que se seguiu imediatamente ao Concílio, em muitas ocasiões, a fim de reavivar a prática religiosa, aumentar o número das vocações sacerdotais e religiosas, tentar preservar a fé do povo cristão, tentou-se de tudo. Tudo, menos deixar “fazer a experiência da tradição”; tudo, menos dar uma oportunidade à chamada liturgia tridentina. Hoje, porém, pede urgentemente o bom senso que se deixe viver e prosperar todas as forças vivas da Igreja, e em particular, esta, que tem por si um direito que remonta a mais de mil anos.

Que ninguém se engane, porém: este apelo não é um pedido com vista à obtenção de uma nova tolerância, como em 1984 e em 1988; nem mesmo pretende a mera restauração do estatuto concedido em 2007 pelo motu proprio Summorum Pontificum, que, em princípio, reconhecendo um direito a essa liturgia, na verdade, acabou depois por ser reduzido a um regime de permissões, e para mais, concedidas a custo e muito comedidas.

Como simples leigos, não nos cabe emitir um juízo sobre o Concílio Vaticano II, a sua continuidade ou descontinuidade com o ensinamento anterior da Igreja, o mérito ou demérito das reformas que dele resultaram, etc. No entanto, cabe defender e transmitir os meios que a Providência utilizou para permitir que um número crescente de católicos preserve a fé, cresça nela ou a descubra. Ora, é inegável que, neste processo, cabe à liturgia tradicional um lugar essencial, em virtude da sua transcendência, da sua beleza, do seu carácter intemporal, da sua segurança doutrinal.

É por isso que, em nome da verdadeira liberdade dos filhos de Deus na Igreja, pedimos simplesmente que seja reconhecida a plena e completa liberdade da liturgia tradicional, com o livre uso de todos os seus livros, para que, no rito latino, todos os fiéis possam dela beneficiar e todos os clérigos a possam celebrar, sem qualquer entrave.

Jean-Pierre Maugendre, Presidente de “Renaissance Catholique”, Paris

Este apelo não é uma petição a ser assinada, mas uma mensagem a ser difundida, podendo ser usada sob qualquer forma que venha a parecer oportuna, e destinando-se, enfim, a ser apresentada e explicada aos Senhores Cardeais, Bispos e Prelados da Igreja universal.


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Athanasius contra Mundum

Hoje é dia de Santo Atanásio, Bispo de Alexandria e Doutor da Igreja, lutou contra tudo e contra todos em defesa da Fé Católica. No séc. IV, disseminou-se a heresia ariana: uma tese que negava ser Jesus Cristo o próprio Deus feito homem, afirmando que fosse apenas a mais perfeita das criaturas.

A crise na Igreja foi de tal ordem que a maioria dos Bispos, com o apoio do Imperador, eram arianos. Tendo os fiéis católicos sido expulsos das igrejas pelos hereges, escreve-lhes Santo Atanásio uma carta dizendo:

"É bem verdade que eles estão nas igrejas, mas fora da verdadeira Fé; enquanto vós estais fora dos edifícios, sem dúvida, mas a Fé está dentro de vós. Consideremos o que é maior, o edifício ou a Fé? Claramente a Fé verdadeira. Quem então perdeu mais, ou quem possui mais? Aquele que detém o edifício ou aquele que detém a Fé? Sem dúvida o edifício é bom, se a Fé Apostólica é pregada lá."


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quarta-feira, 1 de maio de 2024

Vencer o mal em nós mesmos

Para lutar eficazmente contra o mal, é preciso voltar a guerra para dentro, vencer o mal em nós mesmos. Trata-se da guerra mais dura, a guerra contra si mesmo. Tenho lutado esta guerra. Durante anos e anos. Foi terrível. Mas hoje estou desarmado.

Não tenho mais medo de nada, porque «o amor lança fora o temor». Estou
ou desarmado da vontade de ter razão, de justificar-me, à custa dos outros. Sim, já não tenho medo. Quando não se tem nada, já não se tem medo. «Quem nos separará do amor de Cristo?»

Atenágoras I


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Terço feito com rolos de palha

Em Mansores, no concelho de Arouca, foi feito um Terço com rolos de palha (envolvidos em plástico branco) e também uma imagem de Nossa Senhora. Trata-se duma homenagem a Nossa Senhora no mês de Maio, mês de Maria.






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terça-feira, 30 de abril de 2024

Santa Catarina: de analfabeta a conselheira do Papa e Doutora da Igreja


Catarina nasceu em Sena no ano de 1347. Ainda muito jovem, ingressou na Ordem Terceira de São Domingos, sobressaindo pelo seu espírito de oração e penitência. Levada pelo seu amor a Deus, à Igreja e ao Romano Pontífice, trabalhou incansavelmente pela paz e unidade da Igreja nos tempos difíceis do desterro de Avignon. Foi a esta cidade e pediu ao Papa Gregório XI que voltasse quanto antes para Roma, de onde o Vigário de Cristo na terra deveria governar a Igreja. “Se morrer, sabei que morro de paixão pela Igreja”, declarou uns dias antes da sua morte, ocorrida no dia 30 de abril de 1380.

Escreveu inúmeras cartas, das quais se conservam cerca de quatrocentas, algumas orações e elevações, e um só livro, o Diálogo, que relata as conversas íntimas da Santa com o Senhor. Foi canonizada por Pio II e o seu culto estendeu-se rapidamente por toda a Europa. Santa Teresa diz que, depois de Deus, devia a Santa Catarina, muito singularmente, o progresso da sua alma. Pio IX nomeou-a segunda padroeira da Itália e Paulo VI declarou-a Doutora da Igreja.

I. SEM PARTICULAR INSTRUÇÃO, aprendeu a escrever quando já era bastante crescida, e numa existência muita curta, Santa Catarina teve uma vida cheia de frutos, “como se tivesse pressa de chegar ao eterno tabernáculo da Santíssima Trindade”(1). Para nós, é um modelo de amor à Igreja e ao Romano Pontífice, a quem chamava “o doce Cristo na terra”(2), e de clareza e valentia para se fazer ouvir por todos.

Os Papas residiam naquela altura em Avignon, e Roma, o centro da cristandade, ia-se transformando numa grande ruína; como é evidente, tal situação acarretava inúmeras dificuldades à Igreja universal. E o Senhor fez com que Santa Catarina compreendesse a necessidade de que os Papas voltassem à sede romana para darem início à ansiada e imprescindível reforma. E ela correspondeu: orou incansavelmente, entregou-se à penitência, escreveu ao Papa, aos cardeais, aos príncipes cristãos...

Ao mesmo tempo, proclamou por todo o mundo a obediência e o amor ao Romano Pontífice, acerca do qual escreve: “Quem não obedece a Cristo na terra, àquele que está no lugar de Cristo no Céu, não participa do fruto do sangue do Filho de Deus”(3).

Com enorme vigor, dirigiu prementes exortações a cardeais, bispos e sacerdotes, implorando-lhes a reforma da Igreja e a pureza dos costumes. E não deixou de censurá-los gravemente, embora sempre com humildade e respeito pela dignidade de que estavam revestidos, pois “são ministros do sangue de Cristo”(4(. Estava convencida de que da conversão e do exemplo dos pastores da Igreja dependia a saúde espiritual do rebanho.

Pedimos hoje a Santa Catarina de Sena que saibamos alegrar-nos com as alegrias da nossa Mãe a Igreja e sofrer com as suas dores. E nos perguntamos como é a nossa oração pelos pastores que a governam, se oferecemos diariamente algum sacrifício, horas de trabalho, contrariedades suportadas com serenidade... pelas intenções do Santo Padre, desejosos de ajudá-lo a enfrentar essa imensa carga que Deus colocou sobre os seus ombros. Pedimos também a Santa Catarina que nunca faltem bons colaboradores ao lado do “doce Cristo na terra”.

“Para tantos momentos da história, que o diabo se encarrega de repetir, parece-me uma consideração muito acertada aquela que me escrevias sobre lealdade: «Trago o dia todo, no coração, na cabeça e nos lábios, uma jaculatória: Roma!»”(5) Esta única palavra é suficiente para nos ajudar a manter a presença de Deus durante o dia e a manifestar a nossa unidade com o Romano Pontífice e a nossa oração por ele.

II. SANTA CATARINA revelou sempre uma requintada sensibilidade, foi profundamente feminina(6). Ao mesmo tempo, foi extraordinariamente enérgica – como são as mulheres que amam o sacrifício e permanecem junto da Cruz de Cristo –, e não permitia desfalecimentos e fraquezas no serviço de Deus. Estava convencida de que, tratando-se da salvação própria e da salvação das almas, resgatadas por Cristo com o seu Sangue, não tinha cabimento algum enveredar por caminhos de excessiva indulgência, adoptar por comodismo ou covardia atitudes de débil filantropia, e por isso gritava: “Basta de unguentos! Pois com tanto ungüento estão-se apodrecendo os membros da Esposa de Cristo!”

Foi sempre fundamentalmente optimista, e não desanimava se, depois de ter feito o que estava ao seu alcance, os assuntos não se resolviam à medida dos seus desejos. Durante toda a sua vida, foi uma mulher profundamente delicada. Os seus discípulos recordaram sempre o seu sorriso aberto e o seu olhar franco; andava sempre bem arrumada, amava as flores e costumava cantar enquanto caminhava. Quando um personagem da época, incitado por um amigo, a procurou para conhecê-la, esperava encontrar uma pessoa de olhar oblíquo e sorriso ambíguo. Teve a grande surpresa de encontrar uma mulher jovem, de olhar claro e sorriso cordial, que o acolheu “como a um irmão que voltava de uma longa viagem”.

Pouco tempo depois de ter retornado a Roma, o Papa morreu. E com a eleição do sucessor iniciou-se o cisma que tantos rasgões e tantas dores havia de produzir na Igreja. Santa Catarina falou e escreveu a cardeais e reis, a príncipes e bispos... Tudo em vão. Exausta e cheia de pena, ofereceu-se a Deus como vítima pela Igreja. Num dia do mês de Janeiro, quando rezava diante do túmulo de São Pedro, sentiu sobre os seus ombros o imenso peso da Igreja, como aconteceu com outros santos. Mas o tormento durou poucos meses: no dia 29 de abril, por volta do meio-dia, Deus a chamou para a sua glória.

Do leito de morte, dirigiu ao Senhor esta comovente oração: “Ó Deus eterno!, recebe o sacrifício da minha vida em benefício deste Corpo Místico da Santa Igreja. Não tenho outra coisa para oferecer-te a não ser aquilo que me deste”(7). Uns dias antes, tinha dito ao seu confessor: “Asseguro-lhe que, se morrer, a única causa da minha morte será o zelo e o amor à Igreja que me abrasa e me consome...”

Os nossos dias são também de provas e dor para o Corpo Místico de Cristo. Por isso, “temos de pedir ao Senhor, com um clamor que não cesse (cfr. Is LVIII, 1), que os abrevie, que olhe com misericórdia para a sua Igreja e conceda novamente a luz sobrenatural às almas dos pastores e às de todos os fiéis”(8). Ofereçamos a nossa vida diária, com as suas mil pequenas incidências, pelo Corpo Místico de Cristo. O Senhor haverá de abençoar-nos e Santa Maria – Mater Ecclesiae – derramará a sua graça sobre nós com particular generosidade.

III. SANTA CATARINA ensina-nos a falar com clareza e valentia quando se debatem assuntos que afectam a Igreja, o Sumo Pontífice ou as almas. Não serão poucos os casos em que teremos a grave obrigação de esclarecer a verdade, e, nessas ocasiões, poderemos aprender de Santa Catarina, que nunca retrocedeu diante do fundamental, porque tinha a sua confiança posta em Deus.

Diz-nos o Apóstolo S. João: "Eis a mensagem que ouvimos de Jesus e vos anunciamos: Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas"(9). Aqui estava a origem da força dos primeiros cristãos, bem como da dos santos de todos os tempos: não ensinavam uma verdade própria, mas a mensagem de Cristo que nos foi transmitida de geração em geração. É o vigor de uma Verdade que está por cima das modas, da mentalidade de uma época concreta. Devemos aprender cada vez mais a falar das coisas de Deus com naturalidade e simplicidade, mas ao mesmo tempo com a segurança que Cristo pôs na nossa alma.

Perante a campanha sistematicamente organizada para obscurecer a verdade ou silenciar tudo o que sejam obras boas e retas, que às vezes quase não têm eco nos grandes meios de comunicação, nós, cada um no seu ambiente, temos de atuar como porta-vozes da verdade. Alguns Papas falaram da conspiração do silêncio(10), que se tece em torno das boas obras – literárias, cinematográficas, religiosas, de benemerência social – promovidas por bons católicos ou por instituições organizadas por católicos. São silenciadas ou deixadas na penumbra pelo facto de serem promovidas por católicos, enquanto se orquestram louvores a obras ou iniciativas que atentam contra os valores humanos, que pregam uma falsa liberdade e a anti-solidariedade, ou que cancelam do horizonte do homem as ânsias de Deus.

Nós podemos fazer muito bem neste apostolado da opinião pública. Às vezes, não conseguiremos esclarecer senão os vizinhos, os amigos que visitamos ou nos visitam, os colegas de trabalho... Noutros casos, poderemos ir um pouco mais longe por meio de uma carta aos jornais, de uma chamada telefónica a uma emissora de rádio ou de televisão, não nos furtando a responder ao questionário de uma pesquisa de opinião pública... Devemos afastar a tentação do desalento, o sentimento de que “pouco podemos fazer”. Um rio caudaloso é alimentado por pequenos regatos que, por sua vez, se formaram talvez gota a gota. Que não falte a nossa. Assim começaram os primeiros cristãos.

Peçamos hoje a Santa Catarina que nos comunique um pouco do seu amor à Igreja e ao Sumo Pontífice, e que tenhamos ânsias de dar a conhecer a doutrina de Cristo em todos os ambientes, por todos os meios ao nosso alcance, com imaginação e com amor, com sentido optimista e positivo, sem negligenciar uma única oportunidade. E, com palavras da Santa, peçamos também a Nossa Senhora: “A ti recorro, Maria! Ofereço-te a minha súplica pela doce Esposa de Cristo e pelo seu Vigário na terra, a fim de que lhe seja concedida luz para governar a Santa Igreja com discernimento e prudência”(11).

(1) João Paulo II, Homilia em Sena, 14-X-1980; (2) Santa Catarina de Sena, Cartas, III; (3) idem, Carta 207, III; (4) cfr. Paulo VI, Homilia na proclamação de Santa Catarina de Sena como Doutora da Igreja, 4-X-1970; (5) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 344; (6) cfr. João Paulo II,Homilia, 29-IV-1980; (7) Santa Catarina de Sena, Carta 371, V; (8) Josemaría Escrivá, Amar a Igreja, Prumo-Rei dos Livros, Lisboa, 1990, pág. 59; (9) 1 Jo 1, 5; (10) cfr. Pio XI, Enc. Divini Redemptoris, 10-III-1937; (11) Santa Catarina de Sena, Oração, XI.

Pe. Francisco Fernández Carvajal in hablarcondios.org



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segunda-feira, 29 de abril de 2024

A heresia é o pecado dos pecados

A suprema deslealdade para com Deus é a heresia. É o pecado dos pecados, a mais repugnante das coisas que Deus desdenha neste mundo enfermo. No entanto, quão pouco entendemos da sua enorme odiosidade! É a poluição da verdade de Deus, que é a pior de todas as impurezas.

Porém, quão pouca importância damos à heresia! Fitamo-la e permanecemos calmos... Tocamo-la e não trememos. Misturamos-nos com ela e não temos medo. Vemo-la tocar nas coisas sagradas e não temos nenhum sentido do sacrilégio. Inalamos o seu odor e não mostramos qualquer sinal de abominação ou de nojo. De entre nós, alguns simpatizam com ela e alguns até atenuam a sua culpa. Não amamos a Deus o suficiente para nos enraivecermos por causa da Sua glória. Não amamos os homens o suficiente para sermos caridosamente verdadeiros por causa das suas almas.

Tendo perdido o tacto, o paladar, a visão e todos os sentidos das coisas celestiais, somos capazes de morar no meio desta praga odiosa, imperturbavelmente tranquilos, reconciliados com a sua repulsividade, e não sem proferirmos declarações em que nos gabamos de uma admiração liberal, talvez até com uma demonstração solícita de simpatia tolerante.

Por que estamos tão abaixo dos antigos santos, e até dos modernos apóstolos destes últimos tempos, na abundância das nossas conversões? Porque não temos a antiga firmeza! Falta-nos o velho espírito da Igreja, o velho génio eclesiástico. A nossa caridade não é sincera porque não é severa, e não é persuasiva porque não é sincera. 

Falta-nos a devoção à verdade enquanto verdade, enquanto verdade de Deus. O nosso zelo pelas almas é fraco, porque não temos zelo pela honra de Deus. Agimos como se Deus ficasse lisonjeado pelas conversões, e não pelas almas trémulas, salvas por uma abundância de misericórdia. 

Dizemos aos homens a metade da verdade, a metade que melhor convém à nossa própria pusilanimidade e aos seus próprios preconceitos. E, então, admiramo-nos que tão poucos se convertam e que, desses tão poucos, tantos apostatem. 

Somos tão fracos a ponto de nos surpreendermos que a nossa meia-verdade não tenha tanto sucesso como a verdade completa de Deus. 

Onde não há ódio à heresia, não há santidade. Um homem, que poderia ser um apóstolo, torna-se uma úlcera na Igreja por falta de recta indignação.

Pe. Frederick William Faber in 'The Precious Blood' (Tan Books and Publishers - 2009)


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Cardeal Eugenio Pacelli, futuro Papa Pio XII






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domingo, 28 de abril de 2024

Curta entrevista ao exorcista Padre Duarte Sousa Lara



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Uma Missa em Portugal depois do 25 de Abril

A Mãe de um amigo nosso encontrou recentemente uma carta que escreveu a uma amiga quando tinha 15 anos. A época foi o pós-25 de Abril, em pleno "Verão quente". As Missas não escaparam à revolução e o texto mostra a perplexidade de uma rapariga de 15 anos que não percebia porque é que de repente a Missa já não era como tinha sido até aí.

«No outro dia, o primeiro Domingo que cá passámos, calcula lá que o senhor prior, segundo as suas ideias religiosas a que tu já estás a par, resolveu perguntar aos presentes, não habituais àquelas “reuniões ou assembleias”, como diz o senhor prior, quais eram as suas paróquias e onde se situavam!! 

Depois começou imediatamente com a 1ª leitura, seguindo-se a 2ª e por fim a 3ª! Vê lá, o senhor prior chama 3ª leitura ao Evangelho, e lê-o sentado! Claro que nós nos levantamos sempre, mas desta vez fui embalada no ritmo e não percebi sequer quando se leu o Evangelho. 

Depois segue-se a homilia (palavra que não é usada no vocabulário do senhor prior, assim como pecado, Eucaristia, missa, porque são palavras que nem todos entendem, e em vez de as explicar, substitui-as, isto é o cúmulo). 

Mas como ia a dizer, na homilia todos falam: o senhor prior e os católicos presentes, de tal maneira que chegaram (nós não!) (nem queríamos porque não é próprio não achas?) a discutir o problema dos católicos serem acusados de reaccionários ao ajudarem os desalojados de Angola. Mas como havia quem discordasse, cada um falava, e ouvia-se um burburinho dos comentários pessoais, e isto em plena homilia. 

A Mãe, não pôde mais e teve de sair. Nós ficámos, e depois a Mãe voltou para a Eucaristia. O senhor divide a missa em duas partes: primeira – leitura e sua explicação; segunda – Eucaristia. A primeira dura só 58 min e a segunda 12 min! Quer dizer a parte principal dura 1/5 da parte das “leituras”!»

24/08/1975 – Algures nos arredores de Lisboa


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sábado, 27 de abril de 2024

Os Cartuxos limitam a sua produção

No ano passado, os monges cartuxos anunciaram que não iriam acompanhar a procura do mercado para os seus produtos, que são principalmente licores e produtos à base de plantas.

A casa-mãe dos Cartuxos é La Grande Chartreuse, perto de Grenoble, em França. Em 1605, os monges de La Grande Chartreuse receberam um misterioso pergaminho que continha a receita do que viria a ser o licor Grande Chartreuse, à base de 130 plantas.

No século XVIII, o Chartreuse verte e o Chartreuse jaune foram produzidos pela primeira vez. Os licores Chartreuse tornaram-se rapidamente um grande sucesso. O Chartreuse jaune ficou conhecido como a "rainha dos licores". Outro produto famoso é o Élixir Végétal.

Actualmente, vivem trinta monges no Grande Chartreuse, mas apenas três deles conhecem o segredo do fabrico dos licores Chartreuse. A venda destes produtos permite apoiar financeiramente o Grande Chartreuse e todos os mosteiros cartuxos do mundo.

Em 2022, a Chartreuse Diffusion, a empresa que comercializa os produtos, vendeu 1,6 milhões de garrafas. Mas depois, em 2023, os cartuxos puseram fim ao "crescimento infinito" e limitaram o volume produzido anualmente a 1,2 milhões de litros, porque a principal tarefa dos cartuxos é a oração solitária.

No entanto, em 2023, os Cartuxos lançaram quatro novos chás de ervas. No futuro, seguir-se-ão produtos de aromaterapia e de fitoterapia.



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Profissão de Fé de S. Pedro Canísio contra a heresia protestante

S. Pedro Canísio foi um sacerdote jesuíta holandês, nascido no ano 1521. Foi um forte combatente contra a revolução protestante, especialmente na Alemanha, Áustria e Suiça. O seu trabalho foi especialmente importante na Alemanha, onde se diz que a Fé católica permaneceu graças a este santo. Foi declarado Doutor da Igreja em 1925, pelo Papa Pio XI. A partir de 1571 passou a incluir esta profissão de fé em todos os seus livros:

Professo diante de Vós a minha fé, Pai e Senhor do Céu e da terra, meu Criador e Redentor, minha força e minha salvação, que desde os meus mais tenros anos não cessastes de nutrir-me com o pão sagrado da vossa Palavra e de confortar o meu coração.

A fim de que eu não vagasse, errando como as ovelhas transviadas que não têm pastor, Vós me congregastes no seio de vossa Igreja; colhido, me educastes; educado, continuastes a me ensinar com a voz daqueles Pastores nos quais Vós quereis ser ouvido e obedecido como em pessoa pelos vossos fiéis.

Confesso em alta voz, para a minha salvação, tudo aquilo que os católicos sempre acreditaram de bom direito nos seus corações.; não quero ter nada em comum com eles, porque não falam nem ouvem rectamente, nem possuem a única regra da verdadeira Fé proposta pela Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana.

Uno-me, em vez disso, na comunhão, abraço a fé, sigo a religião e aprovo a doutrina daqueles que ouvem e seguem a Cristo, não apenas quando ensinada nas Escrituras, mas também quando julgada pela boca dos Concílios Ecuménicos e definida pela boca da Cátedra de Pedro, testemunhando-a com a autoridade dos Padres.

Professo-me também filho daquela Igreja Romana que os ímpios blasfemos desprezam, perseguem e abominam como se fosse anticristã; não me afasto de nenhum ponto da sua autoridade, nem me recuso a dar a vida e derramar o meu sangue em sua defesa, e creio que os méritos de Cristo podem obter a minha salvação e a de outros somente na unidade desta mesma Igreja.

Confesso essa Fé e doutrina que aprendi ainda criança, confirmei na juventude, ensinei como adulto, e que agora, com a minha débil força, defendo. Professo francamente, com São Jerónimo, ser uno com quem é uno à Cátedra de Pedro, e protesto, com Santo Ambrósio, seguir em todas as coisas a Igreja Romana que reconheço respeitosamente, com São Cipriano, como raiz e mãe da Igreja universal.

Ao fazer esta profissão, não me move outro motivo senão a glória e honra de Deus, a consciência da verdade, a autoridade das Sagradas Escrituras, o sentimento e o consenso dos Padres da Igreja, o testemunho de fé que devo dar aos meus irmãos e, finalmente, a salvação eterna que espero no Céu e a felicidade prometida aos verdadeiros fiéis.

Se acontecer de eu vir a ser desprezado, maltratado e perseguido por causa desta minha profissão, considerá-lo-ei uma graça e um favor extraordinários, porque isso significará que Vós, meu Deus, me destes a ocasião de sofrer pela justiça e não quereis que me sejam benevolentes aqueles que, como inimigos declarados da Igreja e da verdade católica, não podem ser vossos amigos.

No entanto, perdoai-os, Senhor, porque, instigados pelo diabo e cegados pelo brilho de uma falsa doutrina, não sabem o que fazem, ou não querem saber.

Concedei-me, contudo, esta graça: de que na vida e na morte eu renda sempre um testemunho autêntico da sinceridade e fidelidade que devo a Vós, à Igreja e à verdade, que não me afaste jamais do vosso santo amor, e que esteja em comunhão com aqueles que Vos temem e guardam os vossos preceitos na Santa Igreja Romana, a cujo juízo, com ânimo pronto e respeitoso, eu me submeto e toda a minha obra.

Todos os santos, triunfantes no Céu ou militantes na terra, que estais indissoluvelmente unidos no vínculo da paz na Igreja Católica, mostrai a vossa imensa bondade e rezai por mim.

Vós sois o princípio e o fim de todos os meus bens; a Vós sejam dados, em tudo e por tudo, louvor, honra e glória sempiterna. Ámen.

PF


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sexta-feira, 26 de abril de 2024

A Igreja Católica e a escravatura

Começo com uma citação do grande historiador Fernand Braudel (1902-1985): “O tráfico negreiro não foi uma invenção diabólica da Europa. Foi o Islão, desde muito cedo em contacto com a África Negra através dos países situados entre Níger e Darfur e dos seus centros mercantis da África Oriental, o primeiro a praticar em grande escala o tráfico negreiro (...). O comércio de homens foi um facto geral e conhecido de todas as humanidades primitivas. O Islão, civilização esclavagista por excelência, não inventou, tampouco, nem a escravidão nem o comércio de escravos”(10).

Aqui chegamos à escravidão negra. Muitos séculos ANTES da chegada dos brancos europeus à África, tribos, reinos e impérios negros africanos praticavam largamente a escravatura, exactamente como os berberes (e demais etnias muçulmanas). Os europeus do século XVI tinham verdadeiro pavor de deixar o litoral ou mesmo desembarcar dos seus navios e avançar para longe da costa e capturar escravos. Estes eram trazidos pelos próprios africanos, que tinham grandes mercados espalhados pelo interior do continente, abastecidos por guerras entre as tribos, ou mesmo puro sequestro. Isso pode ser facilmente comprovado, por exemplo, com a descrição do império de Mali feita pelo cronista muçulmano Ibn Batuta (1307-1377), um dos maiores viajantes da Idade Média, e o depoimento de al-Hasan (1483-1554) sobre Tumbuctu, capital do império de Songai. Ademais, havia tribos africanas que praticavam sacrifícios humanos, naturalmente de escravos. Às vezes, para interromper a chuva, mulheres negras (e escravas) eram crucificadas(11).

Entretando, a Igreja Católica condenava, reiteradamente, a escravidão. Há inúmeras bulas papais a respeito: Sicut Dudum (1435) – Eugénio IV manda libertar os escravos das ilhas Canárias; em 1462, Pio II instrui os bispos a pregarem contra o tratamento de escravos negros etíopes, e condena a escravidão como um “crime tremendo”; Paulo III, na bula Sublimus Dei (1537) recorda aos cristãos que os índios são livres por natureza (isto é, ao contrário dos negros, eles não praticavam a escravidão); em 1571 o dominicano Tomás de Mercado declarou desumana e ilícita a escravidão; Gregório XIV (Cum Sicuti, de 1591) e Urbano VIII (Commissum nobis, de 1639) condenaram a escravidão(12).

Paro no século XVII. Há muito mais(13). Mas qual é o resumo da ópera? Devemos estudar o passado, não inventá-lo.

Notas:
10. BRAUDEL, Fernand. Gramática das Civilizações. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 138.
11. COSTA, Ricardo da. “A expansão árabe na África e os Impérios Negros de Gana, Mali e Songai (sécs. VII-XVI)”.In: NISHIKAWA, Taise Ferreira da Conceição. História Medieval: História II. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009, p. 34-53. 
13. Indico, como um excelente resumo da posição da Igreja, a leitura da Carta Apostólica In Supremo, de 3 de Dezembro de 1839, sobre a condenação da escravidão dos indígenas e do comércio dos negros. Há também uma obra com fontes primárias sobre o tema: BALMES, Jaime. A Igreja Católica em face da escravidão. São Paulo: Centro Brasileiro de Fomento Cultural, 1988.

in ricardocosta.com


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