terça-feira, 4 de outubro de 2022

O exemplo de São Francisco

Escreve G. K. Chesterton que na História da Igreja a fé cristã conheceu, no mínimo, cinco vezes uma morte aparente. Um desses períodos dramáticos de «morte lenta da Igreja» foi o tempo de S. Francisco de Assis. Desta imagem particularmente lúgubre da Igreja do século XII dão testemunho as inúmeras bulas do Papa Inocêncio III, que condenavam os abusos mais escandalosos como a usura, a corrupção, a gula, a embriaguez, a libertinagem. 

Tendo como pano de fundo aquela enorme dissolução de costumes surgem na Europa grandes heresias fanáticas e agressivas. Dentre estas conta-se o movimento dos Albigenses e dos Valdenses que quase destruíram o cristianismo. Outro golpe infligido à Igreja foi igualmente o aumento dos pregadores itinerantes, que sistematicamente criticavam os eclesiásticos, frequentemente tomados pela ganância das riquezas, aos quais se contrapunham propagando modelos de pobreza evangélica.

Pelo contrário, Francisco nunca criticava ninguém. A sua opinião era a de que, se o mal reinava ao seu redor, devia em primeiro lugar converter-se a ele próprio, e não os outros. Se um tal luxo e uma tal libertinagem reinavam à sua volta, era ele quem deveria tornar-se radicalmente pobre e puro, assumindo a responsabilidade de tudo. Os santos distinguem-se dos propagadores de heresias no pormenor destes últimos quererem converter os outros em vez de começarem por si próprios, enquanto os santos dirigem o gume de toda a crítica contra a sua própria pessoa. Para que o mundo se torne melhor esforçam-se por se converter a si mesmos. 

Quanto mais Francisco se apercebia da corrupção e dos escândalos que o rodeavam, mais desejava assemelhar-se a Cristo, puro, humilde e pobre. Se o mundo era assim tão perverso, o culpado era Francisco e, assim sendo, era ele próprio quem devia converter-se radicalmente – e a história deu-lhe razão.

De facto, quando Francisco se converteu, quando se tornou tão «transparente» ao Senhor que o rosto de Cristo podia reflectir-Se nele, a Europa começou a levantar-se da sua queda. Realizou-se, desse modo, o sonho no qual Inocêncio III vira uma figura semelhante a Francisco a amparar as paredes periclitantes da Basílica de Latrão, também chamada a «mãe e a primeira de todas as igrejas» – símbolo de toda a Igreja – e assim salvá-la.

Pe. Tadeusz Dajczer in 'Meditações sobre a Fé'


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6 comentários:

inésia disse...

estou sem internet em casa há uns dias. dei uma vista de olhos pelo blog e fiquei MSM CONTENTE por estar on fire!!! q saudades de tudo o q vivemos, de como fomos felizes em Roma!

João Silveira disse...

Mariana, obrigado p este post. S.Francisco era mesmo assim, vestia-se como o mais pobre dos pobres, mas não criticava os ricos. Não quer dizer que não tivesse vontade de o fazer, mas quando sentia essa necessidade, repudiava-a, lembrando-se de Jesus.

Muitas vezes quando fazemos alguma coisa por pura caridade, é dificil não nos sentirmos superiores aos que não o fazem.

João Silveira disse...

Ah, já me estava a esquecer: Viva S.Francisco! Viva os Senzas!!

maria José Martins disse...


Sempre me ensinaram, que é através de "almas especiais", como a de S. Francisco e de outros, por Deus Escolhidas, que Deus vai consertando e repondo a Verdade, na Sua Igreja, ao longo dos tempos, conforme a natureza do perigo, com que o Inferno A está a atacar...
Sendo assim, mais uma vez, obrigada, por nos representar, nestes textos, a digna e Santa postura, deste "frágil homem", no cumprimento LITERAL da Palavra de Deus! E que, por isso, é considerado O SANTO QUE MAIS SE IGUALOU A JESUS CRISTO, EM TUDO!
E, segundo o que li na sua vida, não teve pejo algum, em AMALDIÇOAR um dos seus seguidores que, em certa altura, pretendeu desvirtuar a sua RADICALIDADE e OBEDIÊNCIA, AO EVANGELHO de Jesus Cristo!
S. Francisco, tal como nos diz o texto apresentado, IMPÔS-SE PELO EXEMPLO, mas, de forma EXIGENTE e INTRANSIGENTE!!

Anónimo disse...

Não sei de onde vem essa brilhante ideia de que S. Francisco não criticava os ricos. Realmente nesta época de irenismo religioso tudo é possível de se afirmar, invocando o próprio Jesus Cristo. Haverá maior crítica do que abandonar a riqueza- ele que era rico- e claro que o faz pensando no que Jesus Cristo dissera ao jovem rico e depois aos apóstolos... bem sei, bem sei que, muito "modernisticamente" tudo isso tem que ser visto num contexto meramente espiritual mas olhem que não!

Rivaldo R. Ribeiro disse...

Que lindo e verdadeiro, com vossa licença vou postar no meu blog, pois são devoto de São Francisco de Assis, já uma referência na minha cidade. Mas sou leigo, mas com muito amor por esse santo. Que por sinal meu grande companheiro espiritual.
https://caminho-franciscano.blogspot.com/