quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A imodéstia: o que tem de imprudente e ofensivo - Charles Pope

Um polícia de Toronto terá observado que «As mulheres podiam evitar ser violadas se não andassem vestidas como se fossem prostitutas».

O comentário suscitou protestos por parte de mulheres que organizaram aquilo a que elas próprias chamam «Slut Walks» [em Portugal «Marcha das Galdérias»], durante as quais se apresentam vestidas de forma provocatória e ostentam cartazes condenando a atitude do polícia, que acusam de transferir para a vítima a responsabilidade pelo crime. Mas a reacção passou para o extremo oposto, salientando que as mulheres não têm nada que ter em consideração a maneira como se vestem e o efeito que isso tem nos outros.

Um problema central. [Num debate televisivo] uma das intervenientes mulheres observou: «Quando se veste de forma provocatória, uma mulher está a pedir que olhem para ela como objecto sexual, e não como uma mulher digna de respeito.» Ao que a outra mulher responde: «E qual é o mal de ser um objecto sexual?», uma resposta que põe o dedo na ferida relativamente a muitos dos nossos contemporâneos.

Algumas jovens parecem não fazer a mínima ideia. Dito isto, cheguei à conclusão, depois de conversar com várias mulheres sobre a questão da modéstia, de que muitas delas (em especial as jovens) não têm ideia nenhuma do efeito que provocam nos homens. E confirmei esta impressão assistindo a debates com as adolescentes da catequese, em que reparei que muitas raparigas ainda não perceberam o que está em jogo. Quando uma mulher lhes pergunta: «Porque é que te vestes dessa maneira (provocatória)?», elas respondem quase sempre: «Não sei; é…tipo… tá a ver… confortável! É tipo… cool!»

É possível que algumas não estejam a ser sinceras, e que saibam perfeitamente porque se vestem daquela maneira, mas não duvido de que, até certo ponto, há em tudo aquilo uma inocência que tem de ser formada. Lembro-me de ter lido, aqui há uns anos, uma passagem notável de Wild at Heart, de John Eldridge, que descodificava uma realidade de que me tenho apercebido mesmo nas raparigas mais jovens: «Em última análise, todas as mulheres desejam ter uma beleza a revelar. A maioria das mulheres sente, desde muito cedo, a pressão de ser bela, mas não é a isso que me refiro.

Há também um desejo profundo de ser simples e verdadeiramente bela, e de gostar de o ser. A maior parte recordar-se-á de ter brincado aos vestidos, ao dia do casamento, de ter feito rodopiar o vestido no tempo em que as saias tinham roda e era uma maravilha fazê-las rodopiar: as pequenitas vestiam aqueles vestidos, vinham até à sala de estar e faziam-nos rodopiar.

Aquilo que uma mulher deseja é recuperar o encantamento com que o pai olhava para ela. A minha mulher lembra-se perfeitamente de a porem em cima da mesa de centro da sala, tinha ela uns cinco ou seis anos, a cantar a plenos pulmões. Estão a olhar para mim?, pergunta esta miúda. E gostam do que vêem?» (Kindle edition Loc 367-83).

Talvez seja esta inocência que teve maus resultados, porque não foi dominada; talvez seja por isso que algumas jovens são imodestas no vestir. E depois, muitas delas continuam a sê-lo quando chegam à idade adulta. Mas, mesmo que as suas intenções sejam inocentes, não nos custa nada explicar-lhes que nem toda a gente olha para elas com a mesma inocência e, mais ainda, que há quem se sinta profundamente perturbado pela tentação que ela suscita, em especial quando estas pequenitas já não são nada pequenitas, mas jovens vivazes.


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