domingo, 13 de novembro de 2011

Discurso aos Leigos (Lisboa, 12/05/1982) - Papa João Paulo II

[ "Leigo"? - que é isso? ]

E qual é a vossa vocação, responsabilidade e missão de leigos? Vós bem o sabeis: o leigo está integrado no Povo de Deus, que caminha neste mundo rumo à Pátria celeste. (...)

E fostes chamados à santidade, tendo por modelo o próprio Cristo, na sua doação integral ao Pai e aos irmãos: “como Aquele que vos chamou à santidade, sede também vós
santos em todas as vossas acções”.

Mas olhai que a santidade, mais que uma conquista, é dom que vos é concedido: o amor de Deus foi derramado em vossos corações pelo Espírito Santo que vos foi dado. Assim, ser cristão não é, primariamente, assumir uma infinidade de compromissos e obrigações, mas é deixar-se amar por Deus

[ Que faz um leigo? ]

Perguntareis: o que é que nos compete fazer, na qualidade de leigos? O cristão nunca pode limitar-se a uma atitude meramente passiva, de puro receber. A vossa missão de leigos, portanto, fundamentalmente é a santificação do mundo, pela vossa santificação pessoal, ao serviço da restauração do mundo.

O Concílio Vaticano II, que tanto se debruçou sobre os leigos e o seu papel na Igreja, acentuou bem a sua índole secular. É o cristão que vive no mundo, responsável pela edificação cristã da ordem temporal, nos seus diversos campos: na política, na cultura, nas artes, na indústria, no comércio, na agricultura...

A Igreja há-de estar presente em todos os sectores da actividade humana e nada do que é humano lhe pode
permanecer alheio. E sois vós, principalmente, prezados leigos, que a deveis tornar presente. Quando se acusasse a Igreja de estar ausente de algum sector, ou de despreocupar-se de algum problema humano,
equivaleria lastimar a ausência de leigos esclarecidos ou a não actuação de cristãos naquele determinado sector da vida humana.

Por isso dirijo-vos um apelo caloroso: não deixeis a Igreja ficar ausente de nenhum ambiente da vida da vossa querida Nação. Tudo deve ser permeado pelo fermento do Evangelho de Cristo e iluminado pela sua luz. É vossa tarefa fazê-lo. Este é o caminho:

cristãos no aconchego da intimidade pessoal;
cristãos no interior do lar – como esposos, pais e mães e filhos de família, em “igreja doméstica”;
cristãos na rua, como homens e mulheres situados;
cristãos na vida em comunidade,
no trabalho,
nos encontros profissionais e empresariais,
no grupo,
no sindicato,
no divertimento,
no lazer, etc.;
cristãos na sociedade, ocupando cargos elevados ou prestando serviços humildes;
cristãos na partilha da sorte de irmãos menos favorecidos;
cristãos na participação social e política;
enfim, cristãos sempre, na presença e glorificação de Deus, Senhor da vida e da história.

[ Que "preparação" deve ter um leigo? ]

A vivência generosa e testemunho corajoso da vossa identidade, sabemo-lo, transcende meras qualificacões sociológicas; exige algo profundamente pessoal, que insere na comunidade “ontológica” dos discípulos de Cristo. Já se deixam entrever, como imperativos indeclináveis:

o cultivo da fé e da vida divina,
a frequência dos sacramentos e o dever da oração constante;
a necessidade, mais do que a simples vantagem,
da fidelidade à Cátedra de Pedro,
da comunhão profunda com a Hierarquia bem inseridos nas perspectivas da Igreja local,
em aderência aos vossos Bispos e
em sintonia com as Comissões episcopais nacionais,
em união com o clero e com os religiosos;
a exigência de associações realisticamente organizadas e informadas pelo amor: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros, como eu vos amei”.


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