sábado, 19 de fevereiro de 2022

A ignorância é pecado? São Tomás de Aquino responde

A ignorância difere da nesciência em que significa a simples negação da ciência. Por isso, pode-se dizer daquele a quem falta a ciência de alguma coisa, que não a conhece. Desse modo Dionísio afirma haver nesciência nos anjos. 

A ignorância implica uma privação de ciência, a saber, quando a alguém falta a ciência daquelas coisas que naturalmente deveria saber. Entre essas coisas há as que se é obrigado a saber, isto é, aquelas sem o conhecimento das quais não se pode fazer corretamente o que é devido. Assim, todos são obrigados a saber, em geral, as verdades da fé e os preceitos universais da lei. 

E cada um em particular, o que diz respeito ao seu estado e sua função. Ao contrário, há coisas que não se é obrigado a saber, se bem que seja natural sabe-las, por exemplo, os teoremas da geometria, e excepto em certos casos, os acontecimentos contingentes.

Evidentemente todo aquele que negligencia ter ou fazer o que é obrigado ter ou fazer, peca por omissão. Portanto, por causa de uma negligência, a ignorância das coisas que se devia saber é um pecado. Mas não se pode imputar a alguém como negligência o não saber o que não se pode saber. 

Por isso, essa ignorância é chamada invencível, porque nenhum estudo a pode vencer. Como tal ignorância não é voluntária, porque não está em nosso poder rechaçá-la, por isso ela não é um pecado. Por aí se vê que a ignorância invencível nunca é um pecado. Mas a ignorância vencível é, se ela se refere ao que se deve saber. Mas, ela não o é, se se refere ao que não se é obrigado a saber. 

Suma Teológica I-II, q.76, a.2


blogger

5 comentários:

zé blanco disse...

Muito bom, este post. Clássico, mas actual.

Aproveito para perguntar se se lembra de um vídeo que foi posto aqui no Senza há uns tempos (ano passado? há dois anos?), que era uma música a falar do ponto de vista do Diabo, mas que depois claro que terminava com o nosso ponto de vista, acabando a música numa conclusão espectacular falando de Deus. A melodia lembrava um musical da Broadway, assim ligeira com piano, mas acabava de maneira mais orquestral.

Lembra-se? Gostava muito de ver o vídeo outra vez (só é pena era ser de protestantes - ainda por cima o assunto "Nossa Senhora" era cuidadosamente evitado)

Anónimo disse...

http://www.senzapagare.blogspot.com/2011/06/as-mentiras-do-dito-cujo.html

é deste que está a falar? também gostei bastante de o ver!

João Silveira disse...

Exactamente!Obrigado caro Anónimo, e parabens pela memória

António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

Um blogue muito interessante, parabens

João Silveira disse...

Obrigado, António!