sábado, 16 de junho de 2012

Os fracassos enquanto factores de sucesso - José Luís Nunes Martins

Infelizmente as nossas ideias não resultam de análises racionais e objectivas, cimentadas por uma atenção constante a todas os factores em causa. Na esmagadora maioria dos casos, as nossas posições pessoais são fruto de uma atenção constante a toda a informação que confirme aquilo em que já acreditamos, ignorando sempre, de forma muito sistemática e eficaz, qualquer realidade ou ideia inteligente que se oponha a esses nossos pré-conceitos.

Ao longo dos anos, e buscando somente confirmações das tais opiniões, fica-se de tal forma convicto da solidez das teses iniciais, que nada, mas mesmo nada, pode fazer sequer duvidar dessas mundividências tão firmes quanto falsas.

Esta é a razão pela qual as pessoas comuns tanto gostam de ouvir o que já sabem, e, pela mesma ordem de razão, se sentem tão desconfortáveis perante o novo. Afinal, a novidade não é, por definição, aquilo de que se está à espera, quase nunca se enquadra dentro das estruturas existentes, sendo necessárias alterações de fundo para as integrar devidamente. As pessoas preferem mais do mesmo, o velho, o que já está estabelecido; e apenas admitem suaves variações da mesma matriz. O que desafia a inteligência, e pode permitir avanços significativos na nossa capacidade de compreender o mundo, exige uma humildade e agilidade pouco queridas por quem é preguiçoso com as ideias.

Um corolário desta linha tão generalizada de pensamento é a construção da imagem que cada indivíduo tem de si mesmo. Na maior parte das vezes, uma radical dissonância entre o pensamento e a realidade.
As avaliações que fazemos a respeito de nós mesmos não são baseadas em análises correctas dos nossos sucessos e falhanços ao longo da nossa história individual. Tendemos a desculparmo-nos pelos insucessos e a sobrevalorizar as conquistas (por mais insignificantes que sejam). Desta filtragem viciosa decorre inevitavelmente uma imagem de alguém muito mais inteligente, capaz e virtuoso do que nós.
Daqui resulta que nem sequer nos ajudarmos a nós próprios, na medida em que, somos tantas vezes ignorantes da nossa real identidade.

O pensamento quotidiano tende a tentar esquecer de imediato o que não é bem sucedido e a colocar imediatamente de lado o que não sai de forma perfeita. Mas para se atingir a perfeição é preciso apostar na capacidade de corrigir o que correu mal, analisar ao detalhe cada pedaço dos fracassos, estudando-o, corrigindo-o e aprendendo com ele. Assim, fracassos, quanto maiores melhor.
Os sucessos animam, e os fracassos deviam ter o mesmo efeito, até mais, porque neles se encontra a matéria-prima mais valiosa para a criação de futuros sucessos. Sendo que, espíritos mais elevados, mesmo perante um sucesso prestam atenção redobrada ao que existiu de menos positivo, a fim de aproveitar cada oportunidade para se aperfeiçoarem.

A preguiça de pensamento prefere esquecer e começar de novo, considerando qualquer fracasso ocorrido como algo do qual devemos distanciar-nos quanto antes.

Os fracassos de quem ousa desafiar-se a si mesmo, são sucessos, porque a simples tentativa é um sucesso por si mesmo... será necessário algum génio para descobrir no fracasso as sementes dos sucessos possíveis, mas não é uma tarefa inacessível ao mais comum dos mortais – dos que não têm preguiça de pensar, claro.
A maior parte das pessoas não fracassa, porque prefere desistir.

A grandeza da felicidade é certamente o prémio para quem não se deixou ficar pelos pequenos sucessos, nem se acomodou ao chão ou ao sofá depois dos seus grandes fracassos; e levantou-se, apesar dos medos, para seguir adiante. Rumo ao melhor de si.


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