quinta-feira, 17 de abril de 2014

A semana Santa e o futuro Beato Álvaro del Portillo

"À medida que a Páscoa se aproximava, crescia em D. Álvaro a preparação para aproveitar bem o Tríduo pascal. Dizia-nos uma vez: «Havemos de procurar ser mais um, vivendo em intimidade de entrega e de sentimentos os diversos passos do Mestre durante a Paixão, acompanhar Nosso Senhor e a Santíssima Virgem com o coração e a cabeça, naqueles tremendos acontecimentos, dos quais não estivemos ausentes quando eles aconteceram, porque o Senhor sofreu e morreu pelos pecados de cada uma e de cada um de nós. Pedi à Santíssima Trindade que nos conceda a graça de entrar mais a fundo na dor que cada um causou a Jesus Cristo, para adquirirmos o hábito da contrição, que foi tão profundo na vida do nosso santo Fundador e o levou a heroicos graus de Amor» [7].
D. Álvaro a celebrar no Cenáculo de Jerusalém,
onde Jesus instituiu a Santa Missa (1994)

A liturgia de Quinta-feira Santa impressionava, naturalmente, D. Álvaro. E cheio de esperança, de alegria, também humana, considerava a entrega de Cristo à Igreja, por cada alma, manifestada na instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Visitava os Monumentos com ânimo de meditar e assumir o Sacrifício supremo de Jesus. Gostava de passar pelas igrejas onde O colocavam com maior solenidade, também com o desejo de se preparar melhor para acolher constantemente Deus na sua alma.
Várias vezes comentou que o comoviam as leituras dos diversos ofícios litúrgicos desses dias, e de forma muito particular a narração da Paixão segundo S. João. Recomendava a leitura e meditação da Paixão do Senhor e a adoração da Santa Cruz. Detinha-se a rezar o canto das Lamentações, na Sexta-feira Santa, e o Exsúltet, o pregão da Vigília Pascal.
Em sinal de gratidão e de esperança, beijava com frequência o crucifixo que trazia no bolso, ou o que punha sobre a mesa de trabalho. Tratemos Jesus com autêntico carinho de enamorados, como D. Álvaro fazia, segundo o conselho do nosso Padre:o teu Crucifixo.  Como cristão, deverias trazer sempre contigo o teu Crucifixo. E colocá-lo sobre a tua mesa de trabalho. E beijá-lo antes de te entregares ao descanso e ao acordar. E quando o pobre corpo se rebelar contra a tua alma, beija-o também [8]. Testemunhei que este modo de proceder contagiava outras pessoas, que acabavam por imitá-lo nessas práticas cheias de vigorosa piedade e de naturalidade cristã.
As recordações do primeiro sucessor de S. Josemaria, precisamente no ano da sua beatificação, podem muito bem servir-nos para avançar na vida interior pessoal. Agora, em concreto, preparando-nos para percorrer com amor e agradecimento a Semana Santa. «Meditemos com profundidade e devagar as cenas destes dias. Contemplemos Jesus no Horto das Oliveiras, vejamos como procura na oração a força para enfrentar os terríveis sofrimentos, que Ele sabe tão próximos. Naqueles momentos, a Sua Santíssima Humanidade precisava da proximidade física e espiritual dos Seus amigos. E os Apóstolos deixam-no sozinho: Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora? (Mc 14, 37). Pergunta-nos isso também a ti e a mim, que tantas vezes garantimos, como Pedro, que estávamos dispostos a segui-Lo até à morte e que, contudo, com frequência O deixamos só, adormecemos.
Devemos condoer-nos por estas deserções pessoais e pelas dos outros, e havemos de perceber que abandonamos o Senhor, talvez diariamente, quando descuidamos o cumprimento do nosso dever profissional, apostólico; quando a nossa vida interior é superficial, rotineira; quando nos desculpamos porque sentimos humanamente o peso e a fadiga; quando nos falta o entusiasmo divino para secundar a Vontade de Deus, mesmo que a alma e o corpo resistam» [9].
D. Álvaro aprendeu, na escola de S. Josemaria, a meditar sobre a Paixão do Senhor. E por isso, como escrevi, animava-nos a meter-nos cada vez mais no Evangelhocomo um personagem mais, traduzindo em oração pessoal as cenas que contemplamos. Assim surgirá nas nossas almas uma poderosa vontade de reparar, com coração grande, pelos pecados de toda a humanidade, e não apenas pelas próprias faltas. «Ao meditar na Paixão – confiava-nos numa carta de família – surge espontaneamente na alma um desejo de reparar, de consolar o Senhor, de aliviar-Lhe as Suas dores. Jesus sofre pelos pecados de todos e, nestes nossos dias, os homens empenham-se, com uma triste tenacidade, em ofender muito o seu Criador.
Decidamo-nos a expiar! Não é verdade que todos sentis o desejo de oferecer muitas alegrias ao nosso Amor? Compreendeis que uma falta nossa, por pequena que seja, tem que implicar uma grande dor para Jesus? Por isso insisto que valorizeis muito o pouco, que vos esmereis nos detalhes, que tenhais autêntico pavor de cair na rotina: Deus tem-nos dado tanto! E Amor com amor se paga! Dirijo-me a Jesus, contemplando-O no patíbulo da Santa Cruz, e rogo-Lhe que nos alcance o dom de que as nossas confissões sacramentais sejam mais contritas: porque, como nos ensinava o nosso Padre, Ele continua no Madeiro desde há vinte séculos, e já é hora de que lá nos coloquemos nós. Suplico-Lhe também que aumente em nós o imperioso esforço de levar mais almas à Confissão» [10].       (...)"
Carta de D. Javier Echevarría, Roma, 1 de abril de 2014,

© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei   in opusdei.pt
[7]. D. Álvaro del Portillo, Carta, 1-IV-1987; [8]. S. Josemaria, Caminho, n. 302; [9]. D. Álvaro del Portillo, Carta, 1-IV-1987; [10]. D. Álvaro del Portillo, Carta, 1-IV-1987.


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